Fernando Alcoforado*
Este artigo tem por objetivo demonstrar como realizar a celebração da paz entre Israel e Palestina para evitar que este conflito evolua para uma guerra regional entre árabes e israelenses e, até mesmo, de uma nova guerra mundial envolvendo as grandes potências. Os acontecimentos recentes em que os palestinos do Hamas que comandam a Faixa de Gaza realizaram uma ação terrorista no dia 7 de outubro passado matando 1.400 civis israelenses e sequestrando mais de 200 reféns e lançam foguetes sobre cidades israelenses e o governo de Israel revida lançando bombas e foguetes indiscriminadamente sobre a população civil da Faixa de Gaza matando, até o momento, mais de 7 mil palestinos e transformando Gaza em escombros, além da ofensiva terrestre pelo exército israelense com o propósito de aniquilar o Hamas precisa chegar ao fim imediatamente para acabar com o banho de sangue, sobretudo da população da Faixa de Gaza.
Enquanto o governo de Israel combate o Hamas e massacra a população de Gaza, o Hezbollah, grupo anti-israelense apoiado pelo governo do Irã, ataca postos de Israel na fronteira com o Líbano aumentando as tensões no norte do território israelense, cujos moradores da região foram levados para o sul do país. O Hezbollah atacou em 18/10 vários postos do exército de Israel ao longo da fronteira com o Líbano com nove foguetes, sendo quatro deles interceptados pela defesa aérea israelense. No total, pelo menos cinco soldados israelenses, 11 membros do Hezbollah e cinco militantes palestinos foram mortos nas trocas. Um civil israelense morreu em um ataque no dia 15/10, enquanto dois civis libaneses e um jornalista também foram mortos no conflito.
É oportuno observar que o conflito atual entre o governo de Israel e os palestinos do Hamas está contribuindo, também, para acirrar os ânimos entre israelenses e a população de 3,2 milhões de habitantes palestinos que vivem nas 11 cidades ou áreas administrativas que compõem a Cisjordânia, administrada pela Autoridade Nacional Palestina por decisão da ONU, que vivem há anos uma progressiva ocupação de seu território por colonos israelenses com o controle militar do governo de Israel. O número de mortes palestinos na Cisjordânia chega a 73 desde o início da guerra, além da prisão de 524 pessoas ligadas a grupos armados. Hamas incita moradores da Cisjordânia a resistir e atacar militares de Israel que lá atuam. Governantes dos países árabes dão primeiros sinais de resistência contra o massacre de Gaza por Israel e está havendo muita manifestação da população na Jordânia, no Egito e em outros países árabes pressionando seus governos a tomarem uma atitude. Houve protestos em apoio a palestinos em pelo menos 16 países, incluindo os Estados Unidos.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que o Ocidente é “o principal culpado dos massacres em Gaza” e acusou Israel de cometer “crimes de guerra”. Num discurso agressivo, o chefe de Estado turco desafiou as potências ocidentais, responsabilizando-as por “criarem uma atmosfera de cruzadas” contra os muçulmanos. O governo do Egito começa a dar declarações mais fortes contra o massacre da população de Gaza por Israel. É possível que haja uma grande mobilização popular no mundo árabe contra Israel. Se Israel não cessar o massacre da população da Faixa de Gaza, a tendência é a dos grupos anti-israelenses como o Hezbollah e o Jihad Islâmica, bem como os países árabes entrarem no conflito contra Israel para obrigar o governo israelense a parar o assassinato da população da Faixa de Gaza e negociar o fim do conflito.
A paz precisa ser celebrada entre palestinos e israelenses para cessar a violência entre os dois povos irmãos e acabar com o banho de sangue que ocorre na região. Os palestinos reivindicam estabelecer um Estado Palestino soberano e independente. Grande parte dos palestinos aceita as regiões da Cisjordânia e da faixa de Gaza como território para um futuro Estado palestino. Muitos israelenses também aceitam essa solução. Uma discussão em torno dessa solução ocorreu durante os Acordos de Oslo, assinados em setembro de 1993 entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que permitiu a formação da ANP (Autoridade Nacional Palestina). Apesar da devolução da faixa de Gaza e de partes da Cisjordânia para o controle palestino, um acordo final ainda precisa ser estabelecido. Para isso, é preciso resolver os principais pontos de discórdia, que são a disputa sobre Jerusalém, o destino de refugiados palestinos e o fim de assentamentos judeus na Cisjordânia.
Pode-se afirmar que só há uma solução para o conflito entre Palestina e Israel: de um lado, Israel precisa aceitar a constituição do Estado palestino, buscar uma solução justa e negociada sobre Jerusalém aceitando que esta cidade seja administrada pela ONU e sobre o destino de refugiados palestinos, bem como acabar com os assentamentos judeus na Cisjordânia e, de outro, os palestinos precisam aceitar que Jerusalém seja administrada pela ONU e reconhecer o Estado de Israel porque nem palestinos nem israelenses podem impor sua vontade um ao outro. Nem os grupos extremistas israelenses no poder em Israel podem continuar mantendo a tirania que exerce contra o povo palestino, nem o grupo extremista palestino do Hamas poderá destruir o Estado de Israel. Só há, portanto, uma solução para o conflito na região: os judeus e palestinos celebrarem a paz e a conciliação nos termos acima apresentados. Para tanto, é preciso que a ONU e os governantes dos países amantes da paz se mobilizem para alcançar este objetivo no Oriente Médio diante da incapacidade das grandes potências de alcançá-lo.
Esta seria a forma de evitar a continuidade do conflito Israel- Palestina que já está se desdobrando em uma guerra civil em Israel entre palestinos e israelenses que poderá evoluir para uma guerra regional envolvendo todos os países da região. Sem esta solução, a vitória de Israel com o aniquilamento dos integrantes do Hamas da Faixa de Gaza e a transformação de Gaza em um túmulo de sua população civil farão com que aumente o ódio de palestinos e árabes contra os judeus e impeça qualquer possibilidade de convivência pacífica entre judeus e palestinos na região no futuro. Este cenário fará com que o antissemitismo se dissemine, também, ainda mais em todo o mundo. Este cenário pode se tornar o epicentro de uma guerra regional que pode evoluir para um conflito global com o envolvimento das grandes potências militares com os Estados Unidos e países da União Europeia ao lado de Israel e Rússia e China ao lado dos palestinos. Precisamos evitar que o conflito Israel- Palestina se transforme, portanto, no epicentro de uma nova guerra regional e da 3ª Guerra Mundial. Só a paz entre palestinos e judeus, evitará o pior para seus povos e para toda a humanidade.
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* Fernando Alcoforado, 83, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, da SBPC- Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e do IPB- Instituto Politécnico da Bahia, engenheiro pela Escola Politécnica da UFBA e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário (Engenharia, Economia e Administração) e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, foi Assessor do Vice-Presidente de Engenharia e Tecnologia da LIGHT S.A. Electric power distribution company do Rio de Janeiro, Coordenador de Planejamento Estratégico do CEPED- Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Bahia, Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, Secretário do Planejamento de Salvador, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria), Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019), A humanidade ameaçada e as estratégias para sua sobrevivência (Editora Dialética, São Paulo, 2021), A escalada da ciência e da tecnologia ao longo da história e sua contribuição ao progresso e à sobrevivência da humanidade (Editora CRV, Curitiba, 2022), de capítulo do livro Flood Handbook (CRC Press, Boca Raton, Florida, United States, 2022), How to protect human beings from threats to their existence and avoid the extinction of humanity (Generis Publishing, Europe, Republic of Moldova, Chișinău, 2023) e A revolução da educação necessária ao Brasil na era contemporânea (Editora CRV, Curitiba, 2023).